“O Golpe do Benefício”: Fraudes Bilionárias no INSS se Espalham por 13 Estados e Atingem Milhões de Aposentados

Esquema de descontos fantasmas em aposentadorias movimentou R$ 6,3 bilhões e derruba a cúpula do INSS; investigações revelam rede nacional de corrupção e negligência institucional

Uma das maiores operações contra fraudes previdenciárias da história do Brasil revelou um esquema bilionário que se espalhou por 13 estados e o Distrito Federal, afetando milhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), expôs um sistema de descontos indevidos de mensalidades associativas que teriam sido aplicados diretamente nas folhas de pagamento de beneficiários — sem que eles jamais tivessem autorizado.

Segundo a investigação, mais de R$ 6,3 bilhões foram desviados entre 2019 e 2024, em um esquema que envolvia entidades fantasmas, servidores públicos e dirigentes do próprio INSS. A ação coordenada já cumpriu 211 mandados de busca e apreensão e prisões temporárias em todo o país, atingindo inclusive a alta direção do órgão.


Como funcionava o golpe

Os fraudadores criavam associações de fachada, registradas como entidades representativas de aposentados. Essas entidades conseguiam autorização do INSS para realizar descontos automáticos nas aposentadorias, com a justificativa de cobrança de mensalidades associativas.

Na prática, muitos beneficiários nunca haviam se filiado a nenhuma dessas organizações. Mesmo assim, viam valores de R$ 10 a R$ 50 sendo subtraídos todos os meses de seus benefícios. Em alguns casos, os aposentados só descobriram o desconto anos depois — quando perceberam uma diferença no valor recebido.


A escala da fraude

Levantamentos oficiais indicam que mais de 3,38 milhões de beneficiários consultaram o extrato de pagamentos e identificaram algum tipo de desconto associativo.
Destes, 97,3% afirmaram não ter autorizado as cobranças.

A operação teve alvos em Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe, além do Distrito Federal.

As investigações apontam que parte dos valores desviados foi usada para financiar campanhas políticas, comprar imóveis e pagar propinas a servidores que facilitavam o acesso das entidades ao sistema do INSS.


O impacto humano: aposentados enganados e invisíveis

Por trás dos números frios, há histórias dolorosas.
Muitos aposentados de baixa renda — especialmente em regiões do Norte e Nordeste — tiveram descontos indevidos por anos sem compreender a origem das cobranças.
“É o tipo de golpe que fere a dignidade de quem trabalhou a vida inteira e depende do benefício para sobreviver”, declarou um investigador da PF envolvido no caso.


As medidas do governo

Após a revelação do escândalo, o governo federal criou um grupo de trabalho especial coordenado pela Advocacia-Geral da União (AGU) para tentar recuperar os recursos desviados.
A Justiça já determinou o bloqueio de R$ 238 milhões em bens de suspeitos e entidades investigadas.

Além disso, o atendimento nos Correios passou a oferecer suporte presencial para aposentados verificarem e contestarem descontos irregulares.
O governo também promete uma “busca ativa”, indo atrás das vítimas que não têm acesso digital ou moram em regiões isoladas.


Falhas estruturais reveladas

A Operação Sem Desconto revelou falhas graves de controle no sistema do INSS:

  1. Autorização frouxa de entidades para realizar descontos automáticos.
  2. Fiscalização falha sobre o uso desses valores e sobre a existência real das associações.
  3. Falta de transparência para o beneficiário consultar ou contestar cobranças.
  4. Vulnerabilidade digital — muitos idosos não têm acesso à internet ou desconhecem as ferramentas de verificação.

Repercussões políticas e institucionais

A explosão do escândalo provocou uma crise interna no governo: diretores e coordenadores do INSS foram afastados, e o presidente do instituto chegou a ser alvo de medidas cautelares.
O caso reacendeu o debate sobre reforma administrativa, controle de entidades civis e proteção do beneficiário idoso — historicamente o elo mais fraco do sistema.

Especialistas apontam que o episódio deve resultar em mudanças profundas na forma como o INSS autoriza e fiscaliza descontos automáticos.
Há propostas em estudo para exigir confirmação biométrica e validação dupla (digital e presencial) para qualquer novo desconto em folha.


O que o cidadão deve fazer

O INSS orienta todos os beneficiários a:

  • Acessar o portal ou aplicativo “Meu INSS” e verificar a aba “Descontos autorizados”.
  • Caso identifique alguma cobrança desconhecida, registrar uma contestação imediata.
  • Se preferir atendimento presencial, procurar agências dos Correios que participam do programa de regularização.

O órgão também criou um canal direto de denúncia via Ouvidoria do INSS e promete devolver integralmente os valores indevidos após confirmação das fraudes.


Um alerta sobre a confiança nas instituições

Mais do que um crime financeiro, a fraude bilionária no INSS é um ataque à confiança pública.
Ela escancara as brechas de um sistema que deveria proteger os mais vulneráveis — e expõe o quanto a burocracia, a negligência e a corrupção podem corroer as bases da segurança social no Brasil.

Como resumiu um procurador do MPF:

“Não foi apenas dinheiro que se perdeu. Foi a fé do aposentado no Estado brasileiro.”

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  • Inês Theodoro

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