Nova proposta que dificulta abortos legais avança na Câmara, enquanto o país continua sem políticas públicas que responsabilizem homens pela prevenção da gravidez.
Brasília — A Câmara dos Deputados aprovou, recentemente, um projeto que torna mais difícil o acesso ao aborto legal, mesmo em casos de estupro e, em especial, quando as vítimas são meninas e adolescentes. O texto agora segue para análise no Senado.
Enquanto o país discute mais uma vez a criminalização do útero, uma pergunta permanece fora da pauta:
Por que o debate nunca inclui políticas públicas que responsabilizem homens na prevenção da gravidez?
Hoje, no Brasil, mesmo quando a gestação é fruto de violência sexual, a pressão recai quase exclusivamente sobre a vítima — uma criança.
Enquanto isso, o agressor raramente é identificado, punido ou responsabilizado pela consequência de seu ato.
Quando o debate é sobre corpo feminino, o Estado age.
Quando é sobre responsabilidade masculina, o assunto evapora.
O país discute:
- criminalizar o aborto,
- obrigar meninas a manter uma gestação,
- limitar direitos reprodutivos.
Mas o país não discute:
- vasectomia obrigatória para estupradores,
- cadastro nacional de abusadores sexuais,
- políticas de prevenção focadas em homens,
- educação sexual realista nas escolas.
A matemática da reprodução não mente
- Um único homem pode engravidar 365 mulheres em um ano (uma por dia).
- Uma mulher, em condições normais, engravida de uma pessoa a cada 9 meses.
Ou seja:
A reprodução desenfreada é, estatisticamente, um fenômeno masculino.
Mesmo assim, toda política pública é direcionada para o corpo feminino.
E se a política fosse diferente?

Em vez de perseguir meninas estupradas em hospitais, o Brasil poderia investir em:
✅ Vasectomia reversível como política pública de planejamento familiar
✅ Vasectomia obrigatória para condenados por estupro
✅ Rastreabilidade de paternidade via DNA em bancos de dados
✅ Incentivos para homens realizarem vasectomia voluntária
Hoje, a tecnologia existe.
O que falta é vontade política.
Quem deve responsabilidade pela gravidez?
Se o Estado quer interferir no corpo de uma criança grávida, deveria antes interferir na masculinidade que causa essa gravidez.
Não é um debate sobre ser a favor ou contra o aborto.
É sobre responsabilidade e prevenção.
Hoje o Brasil discute a consequência.
Mas evita discutir a raiz.
Conclusão
Enquanto o Congresso legisla sobre úteros, permanece silencioso sobre quem engravida esses úteros — inclusive no caso de estupro de meninas.
Se o Estado quer entrar no quarto das mulheres, deveria entrar também no quarto dos homens.
Uma política pública justa não controla apenas o corpo feminino.
Ela controla a fonte do problema.http://jornalfactual.com.br








