Muito se celebra o anúncio de grandes investimentos para levar internet a escolas públicas situadas em áreas de difícil acesso. São bilhões destinados à conectividade, sistemas digitais, antenas e satélites. Entretanto, diante de tanta euforia tecnológica, vale questionar: que educação pretendemos conectar, se muitas dessas escolas sequer possuem estrutura adequada para receber seus alunos com dignidade?
Há comunidades em que o teto da sala de aula desaba com a primeira chuva. Em outras, falta merenda, água potável, mobiliário e material pedagógico básico. Professores — os verdadeiros agentes da transformação — seguem sobrecarregados, mal remunerados e, muitas vezes, negligenciados nas políticas públicas.
Levar internet a escolas que ainda lutam para manter o mínimo é como instalar uma janela panorâmica em uma casa sem parede: a vista é bonita, mas a base continua vulnerável.

A conectividade é importante, sim.
É ferramenta de inclusão, ponte para o conhecimento, acesso ao mundo.
Mas ela não pode ser tratada como solução única ou como símbolo de evolução educacional.
O que falta não é tecnologia — é prioridade.
É preciso coragem para investir no essencial:
- estruturas físicas seguras e dignas,
- professores valorizados, com condições reais de trabalho,
- ambientes acolhedores que inspirem aprendizado,
- políticas pedagógicas que olhem para o ser humano, antes da máquina.
Internet nenhuma substitui o olhar atento de um docente preparado, motivado e respeitado.
A verdadeira transformação educacional não nasce de antenas, nasce de compromisso.
Sem valorização do educador, bons salários e formação continuada, a tecnologia se torna apenas adorno — moderna, vistosa, mas estéril. O progresso não pode ser medido apenas pelo número de megabits por segundo, e sim pela capacidade de mudar vidas.
Conectar escolas é importante.
Mas conectar o país à educação de qualidade é urgente.
Que o investimento não seja apenas em cabos e satélites, mas em pessoas, em dignidade, em futuro.
Porque a internet pode levar o aluno ao mundo.
Mas é a educação, de fato, que o prepara para pertencer a ele.







