A guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo neste fim de semana. Em uma reunião de 45 minutos na Malásia, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump indicaram o início de um acordo para discutir a redução das tarifas de importação impostas sobre produtos brasileiros — que hoje chegam a 50%.
O encontro, realizado à margem da Cúpula da ASEAN, marcou a primeira conversa direta entre os dois líderes desde o início das tensões tarifárias em julho. Segundo o chanceler brasileiro Mauro Vieira, “o tom foi positivo e o presidente Trump instruiu sua equipe a iniciar um processo de negociação com o Brasil”.
A guerra comercial que pegou o Brasil de surpresa
No início de agosto, Trump assinou uma ordem executiva elevando tarifas sobre importações do Brasil de 10% para até 50%, sob o argumento de “proteção à indústria americana”. A decisão atingiu setores estratégicos do agronegócio, especialmente carne bovina, café, frutas tropicais e açúcar.
“Foi um golpe pesado, especialmente para produtores rurais e exportadores do interior do país. O mercado norte-americano é essencial para esses setores”, avaliou a economista Carla Menezes, da FGV.
A medida também alcançou produtos industrializados como madeira, papel e celulose — embora parte do setor tenha conseguido redirecionar exportações para a Ásia e a Europa, reduzindo o impacto imediato.
Quem escapou do aumento
Nem todos os produtos brasileiros foram atingidos. Segundo documentos do governo americano, aeronaves civis da Embraer, suco de laranja, minérios, energia e celulose foram excluídos das tarifas.
Essas isenções cobrem cerca de 36% das exportações brasileiras aos Estados Unidos, segundo estimativa da Reuters.
“Foi uma vitória parcial. Mostra que o diálogo diplomático ainda funciona, mesmo em meio à turbulência”, disse um diplomata brasileiro envolvido nas negociações.
Reunião em Kuala Lumpur abre caminho para um novo acordo
O encontro de Lula e Trump em Kuala Lumpur foi descrito por ambas as partes como “franco e produtivo”. A delegação brasileira pediu a suspensão temporária das tarifas enquanto as negociações avançam — proposta que, segundo fontes americanas, está sendo “considerada com simpatia”.
O Itamaraty confirmou que os dois governos formarão um grupo técnico bilateral para definir quais produtos podem ter tarifas reduzidas já nas próximas semanas.
Fontes próximas à Casa Branca disseram à Bloomberg que Trump “está disposto a trabalhar um entendimento com o Brasil”, desde que o país também amplie compras de produtos americanos — especialmente trigo, equipamentos agrícolas e semicondutores.
Efeitos imediatos e plano de reação do governo brasileiro
Enquanto as negociações avançam, o governo Lula tenta amortecer os impactos. O Ministério da Fazenda anunciou um pacote de crédito emergencial para exportadores afetados e avalia subsídios temporários para manter a competitividade.
“Estamos prontos para proteger o produtor brasileiro e defender o nosso comércio exterior. Mas o melhor caminho ainda é o entendimento”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Economistas avaliam que o efeito geral sobre o PIB será limitado, mas setorialmente desigual: agroexportadores e pequenas indústrias voltadas ao mercado norte-americano devem sentir o baque mais forte no curto prazo.
O que vem pela frente
O gesto de aproximação entre Lula e Trump pode inaugurar uma nova fase diplomática, após meses de tensão e discursos duros dos dois lados.
Se houver progresso, as tarifas poderão começar a cair em meados de dezembro, num pacote negociado que inclua contrapartidas comerciais e acordos de cooperação industrial.
“Foi um movimento simbólico, mas essencial. A conversa entre Lula e Trump recoloca o Brasil na mesa de negociações — e pode reabrir a rota comercial mais lucrativa do Hemisfério Ocidental”, resumiu o analista político James Atkinson, da consultoria Eurasia Group.
Em resumo
| Setor afetado | Tarifa atual | Situação |
|---|---|---|
| Carne bovina | 50% | Negociação em andamento |
| Café | 50% | Tarifa em vigor |
| Frutas tropicais e açúcar | 50% | Tarifados desde agosto |
| Aeronaves (Embraer) | Isento | Mantida a exclusão |
| Minérios, energia e celulose | Isento | Mantida a exclusão |







