
Por que o mundo ainda resiste à energia limpa?
“É preciso agregar ambição e inovação para acelerar a transição energética até 2050.”
— Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Um tema que insiste em ficar à margem
Mesmo sem estar oficialmente na pauta da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), o abandono dos combustíveis fósseis volta a ser um dos assuntos mais incômodos e urgentes do planeta.
Durante a Pré-COP, em Belém, a ministra Marina Silva defendeu que essa discussão deve estar no coração dos compromissos climáticos. Segundo ela, é impossível pensar em metas reais de descarbonização sem enfrentar o debate sobre a transição energética.
“O mundo adotou, pela primeira vez, uma decisão que trata explicitamente da transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de forma justa, ordenada e equitativa”, lembrou Marina, referindo-se ao artigo 28 incluído no Balanço Global (GST) durante a COP28, em Dubai.
A resistência dos gigantes
A transição para fontes limpas é, sem dúvida, tecnicamente possível. Mas o obstáculo maior está no poder — e no dinheiro.
O petróleo ainda move economias inteiras, financia políticas públicas e alimenta disputas geopolíticas. Romper com essa dependência significa mexer em estruturas de influência que moldaram o mundo moderno.
Cada tentativa de reduzir o uso de combustíveis fósseis enfrenta pressões corporativas, interesses bilionários e governos temerosos de uma crise econômica.
No fundo, há um paradoxo cruel: todos sabem que o modelo atual é insustentável, mas poucos estão dispostos a abrir mão dos lucros e privilégios que ele garante.
O planeta exausto
Enquanto os líderes hesitam, o clima reage. As ondas de calor extremo, as secas prolongadas e as enchentes devastadoras mostram que o tempo da diplomacia morna acabou.
Mesmo assim, as negociações internacionais seguem lentas — quando não travadas.
A inércia global parece se disfarçar sob discursos de “prudência econômica”, quando o que está em jogo é, na verdade, a sobrevivência coletiva.
Adicionalidades: o novo caminho pro futuro
Marina Silva defende que as adicionalidades — compromissos complementares às metas oficiais — podem destravar o impasse.
Essas iniciativas incluem investimentos em hidrogênio verde, biocombustíveis, energia solar e eólica, além de mecanismos de compensação financeira para países dependentes da exportação de combustíveis fósseis.
É uma forma de tornar a transição viável, justa e inclusiva, sem deixar ninguém para trás.
Uma escolha civilizatória
No fundo, a resistência à energia limpa vai além da economia. Trata-se de uma escolha civilizatória: o que queremos sustentar nas próximas décadas — o lucro imediato ou a vida a longo prazo?
O Brasil, sede da COP30 e potência em fontes renováveis, tem diante de si uma oportunidade histórica de liderar essa virada global.
E como disse Marina, é preciso ambição, inovação e coragem.
Coragem para enfrentar interesses antigos, rever políticas ultrapassadas e admitir que a verdadeira riqueza está na sustentabilidade.
Reflexão final
O maior custo da energia suja não está nas planilhas de lucro, mas no ar que respiramos, nas florestas que perdemos e nas vidas que o clima extremo arrasta.
Enquanto o mundo insiste em adiar decisões, o planeta continua cobrando a conta — com juros que a humanidade talvez não consiga mais pagar.http://jornalfactual.com.br