
“Liberdade religiosa em risco: a ofensiva contra líderes cristãos na China e o controle digital da fé.”
Um novo capítulo na tensão entre fé e Estado vem se desenrolando na China. Nas últimas semanas, autoridades do governo lançaram uma ampla operação contra igrejas cristãs não registradas, prendendo dezenas de líderes religiosos em diferentes províncias. O caso reacendeu o debate sobre liberdade religiosa, controle político e o papel da espiritualidade em uma sociedade cada vez mais vigiada pela tecnologia.
O que está acontecendo

A ofensiva atingiu em cheio a Igreja Zion, uma das maiores congregações cristãs independentes do país, com sede em Pequim. Segundo reportagens internacionais e entidades de direitos humanos, pelo menos 30 pastores foram presos, incluindo o fundador Ezra Jin Mingri, detido sob acusação de “uso ilegal de redes de informação” — um termo amplo usado pelo regime para enquadrar atividades religiosas fora do controle estatal.
A ação mobilizou centenas de policiais e se espalhou por Pequim, Guangxi, Zhejiang e Shandong, configurando a maior repressão coordenada contra igrejas domésticas desde 2018.
O controle da fé

A Constituição chinesa garante liberdade religiosa, mas na prática o governo exige que todas as igrejas estejam registradas em órgãos oficiais e sigam diretrizes do Partido Comunista.
Aqueles que escolhem permanecer independentes — conhecidos como parte do movimento das “igrejas subterrâneas” — vivem sob constante vigilância.
Essas comunidades se reúnem em casas particulares, transmitindo cultos online e tentando escapar da censura digital.
Para o governo, o risco não é a fé em si, mas o poder de mobilização que ela carrega.
“Religião fora do controle estatal é vista como uma ameaça potencial à estabilidade social”, explica um relatório da Human Rights Watch.
Em outras palavras, a perseguição não é apenas espiritual — é política.
Reações internacionais
O Departamento de Estado dos Estados Unidos, bem como organizações como a Christian Solidarity Worldwide e a Portas Abertas, condenaram as prisões, pedindo a libertação imediata dos líderes e o fim da repressão.
Entidades alertam que o episódio marca uma nova fase do endurecimento contra minorias religiosas, em um contexto onde o sistema de vigilância digital chinês — câmeras, reconhecimento facial e monitoramento de redes sociais — é usado para rastrear comportamentos “suspeitos”.
O que está por trás
O avanço da inteligência artificial e o uso massivo de dados estão permitindo um controle quase total da vida espiritual dos cidadãos.
Aplicativos religiosos precisam ser licenciados; sermões são monitorados; e algoritmos classificam conteúdos “politicamente sensíveis”.
Na prática, a fé passa por filtros automáticos — o Estado não apenas controla o que se diz, mas o que se sente.
A repressão atual, portanto, é mais do que uma operação policial. É um sinal de como regimes autoritários estão aprendendo a digitalizar o controle da consciência — um terreno onde a liberdade de crença se torna também uma batalha tecnológica.
Reflexão final
Mais do que um episódio isolado, o que ocorre hoje na China lança uma pergunta urgente ao mundo:
até onde vai o poder de um governo sobre a alma de um povo?
Enquanto as prisões se acumulam e as vozes são silenciadas, cresce o dilema global entre segurança e liberdade.
E talvez, no fim, o maior desafio do século XXI não seja acreditar em Deus — mas ter o direito de acreditar.http://jornalfactual.com.br