
O depoimento do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi na CPMI do INSS, nesta segunda-feira (8), foi marcado por intensos embates entre governistas e oposicionistas. Convocado para esclarecer sua atuação diante do esquema de fraudes bilionárias em benefícios previdenciários, Lupi negou envolvimento, afirmou não ter informado o presidente Lula por falta de elementos concretos e se disse alvo de perseguição política.
Clima de confronto no plenário
Logo no início da sessão, os parlamentares travaram discussões acaloradas. O deputado Rogério Correia (PT-MG) elevou o tom contra o colega Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), chegando a gritar “Bolsonaro na cadeia”. Sóstenes retrucou exigindo respeito ao ex-presidente, o que levou a mesa a intervir para restabelecer a ordem.
Outro ponto de tensão foi o pedido de afastamento do senador Rogério Marinho (PL-RN) da CPMI, sob alegação de conflito de interesses, já que ele foi secretário especial de Previdência durante parte do período investigado.
A sessão chegou a ser suspensa temporariamente para que Lupi consultasse seu advogado, após questionamentos incisivos de parlamentares da oposição.
Defesa de Lupi
Em sua fala, o ex-ministro reforçou que não participou das irregularidades e que só tomou conhecimento da real dimensão das fraudes após a operação da Polícia Federal.
“Nunca agi de má-fé e jamais omiti informações. Se não levei o assunto diretamente ao presidente Lula foi porque não tinha dados concretos para fazê-lo”, afirmou Lupi.
Ele negou conhecer o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como um dos articuladores do esquema, e reconheceu que os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) — existentes desde 1994 — se transformaram em uma brecha usada para desviar bilhões de reais.
Investigação em andamento
A CPMI do INSS foi criada após a Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025 pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU). A investigação revelou um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões, com prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Segundo a apuração, entidades privadas usaram os ACTs para realizar cobranças fraudulentas, atingindo milhões de beneficiários.
Disputa política e busca por responsabilização
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), destacou que o foco da comissão deve ser a apuração dos fatos e não a disputa partidária.
“Nosso compromisso é com a verdade e com os brasileiros que tiveram seus benefícios lesados. Não se trata de proteger ou acusar governos, mas de responsabilizar os culpados”, afirmou.
A fala buscou equilibrar o clima polarizado entre parlamentares da base governista, que defendiam Lupi e tentavam atribuir responsabilidades a gestões anteriores, e membros da oposição, que cobravam explicações diretas sobre a atuação do ex-ministro e do atual governo.
Próximos passos
A CPMI deve ouvir ainda outros ex-dirigentes do INSS e representantes de entidades envolvidas nos ACTs. O relatório final está previsto para o fim do ano e poderá recomendar indiciamentos criminais, mudanças legislativas e o fortalecimento dos mecanismos de controle interno.http://jornalfactual.com.br