O Brasil pode estar prestes a inaugurar um novo capítulo na economia da saúde. Um dispositivo desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) — o Rapha, que combina curativo de látex com fototerapia por LED — promete não apenas evitar amputações em pacientes com diabetes, mas também reduzir gastos bilionários do sistema público e privado com tratamentos de longa duração.
Mais do que uma inovação biomédica, o Rapha se apresenta como um caso exemplar de tecnologia nacional com potencial de escalar globalmente, colocando o país em posição estratégica em um mercado estimado em mais de US$ 12 bilhões anuais, voltado ao tratamento de feridas crônicas.
O custo invisível das amputações e o impacto econômico direto

As amputações relacionadas ao diabetes representam um dos procedimentos mais caros e devastadores do sistema de saúde. Quando uma amputação ocorre, a despesa não para na cirurgia:
- próteses,
- internações sucessivas,
- fisioterapia contínua,
- aposentadorias precoces,
- perda de produtividade da força de trabalho.
Somando esses fatores, estima-se que cada amputação resulte em até R$ 150 mil em custos diretos e indiretos para o sistema público e privado. Multiplique isso por dezenas de milhares de casos ao ano — e chega-se a um impacto que supera facilmente os R$ 10 bilhões/ano no Brasil.
O Rapha propõe uma mudança de lógica: prevenir antes de amputar. E prevenção custa muito menos.
Tecnologia própria e matéria-prima local: vantagem competitiva rara
Um dos grandes trunfos do dispositivo é o uso de látex nacional, um insumo abundante, renovável e que dispensa importações. Em um cenário global marcado por interrupções nas cadeias de suprimento, custo crescente de matérias-primas e volatilidade cambial, dominar insumos internos é uma vantagem estratégica.
Além disso:
- o LED utilizado é de baixo custo;
- o processo de aplicação é simples;
- a tecnologia pode ser licenciada para produção industrial dentro do próprio país.
A depender da escala de produção, o dispositivo pode custar menos do que um curativo hospitalar avançado atualmente importado da Europa e dos EUA.
Um produto com DNA exportador
O mercado global de cicatrização avançada e tratamento de feridas crônicas é altamente concentrado, dominado por gigantes dos EUA, Reino Unido e Alemanha. Esse oligopólio pressiona preços, deixa países dependentes e limita o acesso de pacientes de baixa renda às tecnologias mais modernas.
O Rapha se diferencia exatamente por quebrar esse paradigma:
- É feito com insumos brasileiros.
- Tem custo muito inferior às tecnologias internacionais.
- Possui eficácia comparável a terapias de alto custo.
- Encaixa-se em políticas de saúde pública de países tropicais e emergentes.
Se o Brasil conseguir registrar, produzir e certificar o dispositivo para uso global, abre-se uma janela rara: transformar uma inovação acadêmica em um produto de exportação, aumentando o valor agregado da indústria nacional e fortalecendo o país no setor de biotecnologia.
Impacto social que vira impacto econômico
Além da economia direta para o sistema de saúde, a adoção em larga escala do Rapha pode gerar efeitos colaterais positivos:
- menos amputações → mais gente trabalhando;
- redução de aposentadorias por invalidez;
- hospitais menos sobrecarregados;
- crescimento de polos produtivos ligados à borracha;
- geração de empregos na bioindústria.
Ou seja: saúde pública vira dinamismo econômico — algo raro e valioso.
O gargalo agora é a velocidade da adoção
O dispositivo já recebeu certificação do Inmetro e aguarda aprovação da Anvisa para uso comercial. Esse é o ponto sensível. Se a liberação demorar, o Brasil pode perder momentum e atrasar a entrada no mercado global.
Uma vez liberado, especialistas estimam que o dispositivo poderia:
- ser implementado rapidamente no SUS,
- reduzir amputações em 30% a 50%,
- economizar bilhões ao longo dos próximos anos,
- gerar uma nova cadeia produtiva nacional baseada em inovação biotecnológica.
Ciência nacional com ambição global
A história do Rapha é, acima de tudo, um exemplo de como a inovação brasileira pode ser competitiva em escala mundial — quando recebe incentivos, visibilidade e estratégia industrial.
Num país que importa grande parte das tecnologias médicas que utiliza, ver uma solução nacional com impacto mundial é mais do que motivo de orgulho: é uma oportunidade econômica concreta.
Se o Brasil decidir apostar nela, o Rapha pode virar um raro caso em que ciência, indústria e saúde pública caminham juntas — reduzindo custos, salvando vidas e projetando o nome do país no mercado global de biotecnologia.








