Com inflação alta, desvalorização do peso e ajustes duros do governo Milei, argentinos enfrentam o dilema de viver em um país onde cada dia o dinheiro parece valer menos.
O Peso em Queda Livre
O peso argentino sofre desvalorização contínua frente ao dólar. Apesar dos controles cambiais e da “banda de flutuação” criada para tentar conter a fuga de capitais, a moeda perdeu força tanto no mercado oficial quanto no paralelo. Para muitos cidadãos, a sensação é clara: o peso não serve mais como reserva de valor.
Inflação: do Recorde ao Alívio Parcial
A inflação foi o grande fantasma da economia argentina nos últimos anos. Em 2023, o país registrou mais de 200% de inflação anual. Em 2024, houve queda significativa — para pouco mais de 100% —, mas o estrago já estava feito. Salários defasados, poder de compra corroído e preços que mudam de uma semana para outra são a realidade da maioria das famílias.
Aposta em Ajustes Duros
O presidente Javier Milei apostou todas as fichas em um ajuste fiscal radical. Subsídios foram cortados, gastos públicos reduzidos e contratos reavaliados. A medida trouxe algum alívio aos números macroeconômicos, mas gerou protestos nas ruas, aumento do desemprego e um clima de incerteza política que ameaça a credibilidade do plano.
Reservas e Dívidas: o Nó da Economia
Outro gargalo é a falta de dólares. A Argentina precisa das reservas internacionais para intervir no câmbio e pagar dívidas externas. Porém, com exportações frágeis e baixa entrada de capital estrangeiro, cada intervenção do Banco Central parece apenas ganhar tempo.
O Fantasma da Desconfiança
Mais do que números, a economia argentina enfrenta o problema da confiança. Empresários, trabalhadores e investidores duvidam da estabilidade do peso. O resultado é a “profecia autorrealizável”: quanto mais medo de desvalorização, maior a procura por dólares, o que, por sua vez, acelera ainda mais a queda da moeda.
O Que Pode Salvar o Peso?
Analistas apontam cinco fatores cruciais para evitar o colapso monetário:
- Credibilidade política – Governo e Congresso precisam alinhar discursos e mostrar compromisso real com reformas.
- Controle da inflação – Manter política monetária rígida e transparência nas metas.
- Reforma fiscal sustentável – Equilibrar arrecadação e despesas, sem sufocar a economia.
- Entrada de dólares – Via exportações, turismo e investimentos estrangeiros.
- Gestão de expectativas – Comunicação clara e resultados visíveis para recuperar a confiança do povo.
Risco de Espiral
Se essas medidas não avançarem, os riscos são claros: inflação descontrolada, dolarização informal da economia, aprofundamento da pobreza e instabilidade política crescente.
A pergunta que ecoa nas ruas de Buenos Aires resume o drama argentino: até quando o peso resistirá como moeda nacional?http://jornalfactual.com.br








