
A vassoura, em suas pequenas mãos, virava o corpo de um violoncelo. O lápis, o arco que desliza delicadamente sobre as cordas. Na cabeça de Callyandra Santos, a sinfonia imaginária era tão poderosa que abafava até os estampidos dos tiros que ecoavam nas vielas do Coque — uma das regiões mais violentas e estigmatizadas do Recife (PE).
Foi ali, onde muitos só veem ausência e abandono, que a música entrou pela janela e mudou tudo. Aos 9 anos, Callyandra encontrou na Orquestra Criança Cidadã — um projeto social que já abriu caminhos para mais de mil crianças e adolescentes — um novo universo possível.
“Quando toco, esqueço tudo. É como se o mundo ficasse em silêncio e só a música existisse”, conta a jovem.
Hoje, aos 17, aquela menina que sonhava com cordas imaginárias se prepara para um dos momentos mais marcantes de sua vida: ela é uma das 11 selecionadas da orquestra de jovens do Recife que embarcam em uma turnê internacional pela Ásia e Europa, levando consigo um símbolo poderoso de esperança e superação.
O projeto, batizado de “Concerto pela Paz”, vai unir no mesmo palco jovens músicos de países em guerra — palestinos e israelenses, ucranianos e russos, além de coreanos do Sul e do Norte — mostrando que, mesmo quando a diplomacia falha, a música pode falar mais alto.

O roteiro da turnê inclui apresentações em Seul (Coreia do Sul, no dia 30), Hiroshima e Osaka (Japão, dias 4 e 5 de outubro), Roma (Itália, no dia 7) e, no dia 8, um concerto inesquecível no Vaticano, diante do Papa.
Entre a vassoura que virou violoncelo e os aplausos que ecoarão ao redor do mundo, há uma jornada feita de coragem, notas e sonhos. Uma prova viva de que a arte não apenas transforma destinos — ela salva vidas.http://jornalfactual.com.br