A Amazônia brasileira, considerada o maior sumidouro natural de carbono do planeta, pode estar perdendo sua capacidade de capturar CO₂ — o principal gás responsável pelo aquecimento global. A constatação é de um novo estudo publicado nesta semana por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de Oxford, que alerta: a floresta, antes uma aliada contra as mudanças climáticas, está à beira de se tornar uma emissora líquida de carbono.
Segundo os cientistas, o fenômeno está diretamente ligado ao avanço do desmatamento, das queimadas e da degradação florestal. Nos últimos cinco anos, grandes áreas da Amazônia vêm sofrendo perda de cobertura vegetal e aumento da temperatura do solo, o que compromete o equilíbrio natural que permite às árvores armazenarem carbono.
“Quando a floresta é derrubada ou queimada, o carbono que estava retido nas árvores é liberado na atmosfera. O problema é que o ritmo de destruição está superando a capacidade da floresta de se regenerar”, explica Marina Coutinho, pesquisadora do Inpe e coautora do estudo.
Da esponja ao emissor
Os dados mostram que regiões do sudeste da Amazônia, especialmente no Pará e Mato Grosso, já emitem mais CO₂ do que absorvem. O quadro é agravado pelas secas mais longas e intensas, impulsionadas pelo aquecimento global e pelo El Niño, que tornam a floresta mais vulnerável ao fogo e reduzem o crescimento de novas árvores.
O estudo aponta que a Amazônia já perdeu cerca de 17% de sua cobertura original, e que a fronteira crítica está em torno de 20% a 25% — a partir daí, o ecossistema pode entrar em colapso irreversível, transformando-se em uma savana degradada, incapaz de manter o ciclo de chuvas da América do Sul.
Um efeito dominó climático
A perda da capacidade de captura de carbono da Amazônia tem implicações globais. Com menos CO₂ sendo retido, o aquecimento do planeta pode se acelerar, impactando o regime de chuvas, a agricultura e até o abastecimento de água em várias regiões do Brasil.
“Sem a Amazônia funcionando como um regulador climático, o esforço global para manter o aumento da temperatura abaixo de 1,5°C se torna praticamente inviável”, alerta o climatologista John Harris, da Universidade de Oxford.
Preservar é urgente
Os pesquisadores reforçam que a preservação e a recuperação da floresta são urgentes. Entre as medidas sugeridas estão o fortalecimento das políticas de combate ao desmatamento ilegal, o apoio às comunidades locais e indígenas e o incentivo à economia de baixo carbono na região amazônica.
“A Amazônia não é um luxo ambiental — é uma necessidade planetária”, resume Marina Coutinho.
“Cada hectare salvo é uma tonelada de carbono que deixa de aquecer o planeta.”
Contexto
- A Amazônia armazena cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono.
- O Brasil foi responsável por 43% das emissões globais de desmatamento em 2024.
- Estudos indicam que o bioma pode se tornar fonte líquida de carbono até 2030 se as tendências atuais persistirem.http://jornalfactual.com.br







