
As ondas que se quebram nas praias brasileiras escondem uma verdade incômoda: em cada litro de água salgada, há partículas invisíveis de um inimigo silencioso — o plástico. Ele está nas redes de pesca, nos estômagos dos peixes, nas areias que acolhem nossas pegadas e até mesmo no sal que tempera nossos alimentos. Agora, o Brasil dá um passo decisivo para mudar essa realidade.
O governo federal anunciou a criação da Estratégia Nacional de Enfrentamento à Poluição por Plástico no Oceano, um plano ambicioso que pretende prevenir, reduzir e eliminar a presença desse resíduo nos ecossistemas marinhos. A iniciativa pretende integrar políticas públicas, coordenar ações entre ministérios e mobilizar a sociedade civil e o setor privado para um combate sistêmico à poluição plástica.
Um desafio que vai além das praias

Estima-se que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico sejam despejadas nos oceanos todos os anos no mundo. No Brasil, o problema tem dimensão continental: rios transformados em condutores de lixo urbano, lixões a céu aberto despejando resíduos diretamente no mar e cadeias produtivas que ainda não incorporaram a lógica da economia circular.
A nova estratégia surge como uma resposta estruturada a esse cenário. Ela prevê ações como:
- Fortalecimento de políticas de gestão de resíduos sólidos nos municípios.
- Incentivos à pesquisa e inovação para substituição do plástico convencional por materiais biodegradáveis.
- Criação de programas de educação ambiental e conscientização da população.
- Fomento à economia circular e ao reuso de materiais na indústria.
Mais do que medidas técnicas, trata-se de uma mudança de mentalidade. A poluição plástica não é apenas um problema ambiental — é também um reflexo do nosso modelo de consumo e da nossa relação com a natureza.
O preço do descuido humano

O impacto do plástico vai muito além do que os olhos podem ver. Tartarugas marinhas confundem sacolas com águas-vivas e morrem asfixiadas. Aves ingerem fragmentos plásticos que comprometem seu sistema digestivo. E os microplásticos — pedaços minúsculos resultantes da degradação dos resíduos maiores — já foram encontrados na água potável, no ar e até no corpo humano.
Cada embalagem descartada incorretamente conta uma história de descuido. Cada garrafa flutuando em um rio é uma lembrança do quanto ainda precisamos evoluir como sociedade. A nova estratégia nacional, nesse sentido, é também um convite à autocrítica coletiva.

O mar começa na calçada
Ao contrário do que muitos imaginam, a poluição dos oceanos não começa no litoral. Ela começa na calçada, no bueiro, na rua onde jogamos um copo descartável ou uma sacolinha plástica. Tudo que vai parar nos cursos d’água tem grandes chances de chegar ao mar.
É por isso que a estratégia brasileira não se limita ao ambiente costeiro. Ela entende que enfrentar o problema exige olhar para toda a cadeia — da produção ao consumo, do descarte à reciclagem. E, acima de tudo, exige envolver cada cidadão nessa missão.
Um pacto com o futuro
A humanidade precisa escolher entre duas opções: continuar afogando os oceanos em plástico ou construir uma nova relação com o planeta. A decisão do Brasil de instituir essa estratégia é um passo firme na segunda direção — mas o caminho é longo e precisa da colaboração de todos.
Cada escolha cotidiana — levar uma ecobag ao mercado, evitar produtos excessivamente embalados, separar o lixo para reciclagem — é uma gota de esperança em um oceano que pede socorro.
Se queremos mares limpos e vivos, precisamos começar pela nossa própria mudança. Porque, no fim das contas, cuidar do oceano é cuidar de nós mesmos.http://jornalfactual.com.br