Num momento em que a Inteligência Artificial redefine economias, profissões e até relações sociais, São Paulo se torna palco de uma virada histórica: mulheres negras ocupando — com autoridade e protagonismo — um território que por décadas foi majoritariamente branco e masculino. O Conecta PretaLab, iniciativa do Olabi, abriu as portas do Sesc Pompeia para uma jornada de três dias dedicada a colocar ferramentas de IA nas mãos de quem, até aqui, quase nunca foi chamada para participar dessa conversa.
E elas estão entrando não como coadjuvantes, mas como líderes.
Um movimento que rompe silêncios e cria futuro
A PretaLab, referência em tecnologia com foco em mulheres negras e indígenas, já vinha formando profissionais e articulando redes. Agora dá um passo além: levar IA de forma prática, acessível e crítica para esse público — um público que transforma quando tem oportunidade.
Oficinas, rodas de conversa, mentorias e demonstrações mostram o caminho para usar IA em tarefas essenciais: criação de artes e produtos digitais, organização financeira, produção de conteúdo, montagem de currículo, planejamento de negócios e até automação de pequenos empreendimentos.
Não é apenas sobre usar ferramentas.
É sobre entender como elas funcionam, como influenciam o mundo e como podem ser hackeadas, reprogramadas e reinventadas a partir das experiências de mulheres negras.
Debates de peso: IA, justiça social e poder
A abertura reuniu nomes que dão o tom da importância do evento:
- Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, colocando a IA sob a lente dos direitos humanos;
- Mayara Ferrão, artista visual que integra inteligência artificial à produção artística;
- Silvana Bahia, co-diretora do Olabi e uma das mentes por trás da PretaLab, reforçando que tecnologia e justiça racial caminham juntas.
A mesa não falou apenas sobre inovação — falou sobre estrutura, racismo algorítmico, autonomia digital e o direito de mulheres negras serem autoras das tecnologias que moldarão o amanhã.
Oficinas conduzidas por quem já está fazendo acontecer
Um dos pontos mais potentes do Conecta PretaLab é que muitas das facilitadoras são ex-alunas da própria PretaLab. Isso cria um ciclo de liderança e pertencimento raro no setor: mulheres que entraram pela porta da formação agora retornam como especialistas, guiando outras.
É a prova viva de que quando você abre uma porta para alguém, essa pessoa abre dez para outras.
Por que isso importa — e muito
A corrida pela IA não é neutra.
Ela define quem terá acesso às melhores vagas, quem conseguirá empreender com mais eficiência e até quais vozes serão amplificadas ou apagadas no digital.
Mulheres negras, frequentemente colocadas nas bordas da tecnologia, passam a ocupar o centro da criação. E quando elas ocupam esse espaço, toda a sociedade muda: surgem outras prioridades, outras perspectivas, outras soluções — e outros futuros possíveis.
O Conecta PretaLab não é apenas um evento.
É um marco de transformação social.
Uma frase que resume o espírito destes dias
“Se o futuro está sendo construído agora, ele precisa ter o rosto, a voz e a inteligência das mulheres negras.”








