Por trás de uma pré-candidatura que durou menos de 48 horas, o país assistiu a uma queda de R$ 140 bilhões na Bolsa, reações bruscas no câmbio e um movimento político que, segundo fontes nos bastidores, não foi improvisado — foi calculado. E calculado para causar exatamente isso.
Nos últimos anos, poucas cenas foram tão emblemáticas do momento que antecede 2026: um anúncio, uma reação em cadeia e um recuo condicionado.
Mas o que está acontecendo realmente?
A seguir, nossa reconstrução exclusiva.
O dia em que Flávio Bolsonaro virou “o ativo mais volátil do país”
Sexta-feira, 16h12.
Fontes do mercado financeiro confirmam o que já circulava em Brasília: Flávio Bolsonaro será pré-candidato à Presidência.
Minutos depois, a primeira mesa de operações em São Paulo registra anomalias:
– aumento súbito na venda de ações de estatais;
– fuga de capital estrangeiro;
– disparada nos contratos futuros de dólar.
Às 17h44, o Ibovespa encerra o pregão na maior queda em quatro anos.
Um operador resume:
“Política costuma mexer com o mercado. Mas o que aconteceu hoje não foi reação — foi pânico.”
Por quê?
Porque a candidatura de Flávio não era esperada.
E muito menos desejada.
O anúncio que não estava no script do Centrão
A investigação apurou que, nas semanas anteriores, líderes do Centrão e governadores aliados trabalhavam silenciosamente para consolidar dois nomes como opções “competitivas” à direita:
- Tarcísio de Freitas
- Ratinho Jr
Ambos testam melhor em pesquisas, geram menos rejeição moderada e, sobretudo, não trazem o “risco institucional” associado ao nome Bolsonaro.
A entrada de Flávio — sem aviso, sem alinhamento, sem preparo — funcionou como uma bomba no processo de costura política.
Um cacique do PP resume, em off:
“Isso não foi um anúncio. Foi uma ameaça.”
O “preço” de Flávio: justiça — ou algo maior?

No domingo, o senador dá a entrevista que acende outro pavio:
“Meu preço é justiça… justiça comigo e com 60 milhões de brasileiros que foram sequestrados junto com Jair Bolsonaro.”
A fala, segundo uma fonte do Senado, foi um “recado cifrado”.
Outro assessor afirma que “todo mundo entendeu”:
o preço para Flávio sair da disputa seria o avanço da pauta de anistia aos condenados pelo 8 de janeiro.
Nos corredores da Câmara, deputados descrevem o clima como “pressão explícita”, com o PSL e parte do PL articulando para colocar a anistia em votação ainda nesta semana.
Eis a equação formada nos bastidores:
- Flávio entra → mercado desaba
- Bolsa despenca → pressão política aumenta
- Pressão aumenta → Centrão precisa negociar
- Negociação → anistia volta à mesa
Para um líder partidário ouvido pela reportagem, isso não foi acaso:
“É chantagem branca. Não vem como ameaça direta. Vem por meio do caos.”
A bolsa caiu por causa de Flávio? Ou por causa do “plano” por trás dele?
Ao conversar com operadores, a resposta se repete: não é o nome que assusta — é o que ele simboliza.
A candidatura relâmpago carregou três riscos que o mercado odeia:
1. Risco de instabilidade judicial
Flávio como candidato reacende automaticamente os debates sobre investigações, anistias, conflitos com o STF e possíveis tensões institucionais.
2. Risco de fragmentação da direita
Com Tarcísio e Ratinho tentando construir unidade, Flávio entra como fator de desordem — algo que investidores interpretam como chance maior de caos legislativo em 2026.
3. Risco de uma eleição pautada por revanches, não por economia
Toda vez que o pleito gira em torno de agendas personalistas, e não de reformas, o mercado precifica pior.
Um economista de uma gestora internacional sintetiza:
“O investidor não teme Bolsonaro. Ele teme incerteza. E Flávio é incerteza pura.”
A teoria que circula em Brasília: Flávio não é candidato — é instrumento
Alinhando as conversas com parlamentares, operadores de mercado, assessores e consultores políticos, três hipóteses ganham força:
HIPÓTESE 1 — O movimento é para pressionar pela anistia
A candidatura seria o estopim necessário para forçar o Congresso a acelerar o tema.
HIPÓTESE 2 — Flávio quer ser vice de Tarcísio
Ameaça entrar para ganhar protagonismo e negociar entrada na chapa.
HIPÓTESE 3 — O bolsonarismo quer testar força com o mercado
Um “ensaio de crise” para medir o efeito de um Bolsonaro 2.0 nas estruturas econômicas e políticas.
Fontes ouvidas não descartam que as três estejam ocorrendo simultaneamente.
Por que a movimentação preocupa Brasília e Wall Street
Há uma leitura comum entre analistas internacionais:
o episódio expôs a vulnerabilidade do Brasil diante de movimentos táticos da política.
Se um único anúncio informal — seguido de um recuo condicionado — derruba a Bolsa em quatro anos, o que acontecerá durante uma campanha inteira?
A dúvida ecoa entre investidores estrangeiros.
Um analista americano ouvido pela reportagem dispara:
“O Brasil está entrando num ciclo onde a política pode virar refém de chantagens. Isso não combina com estabilidade.”
E o que vem agora?
Segundo apuração:
- O Centrão tenta conter danos.
- O PL vê a repercussão como “vitória estratégica”.
- Tarcísio se incomoda.
- Ratinho observa.
- O STF monitora atentamente.
- O mercado deve continuar volátil nesta semana.
E Flávio?
Flávio espera.
E espera porque sabe:
quanto mais instabilidade causar, mais valerá sua “moeda”.
Conclusão: 48 horas que mostraram como o Brasil pode ser governado pela imprevisibilidade
O episódio expôs fragilidades profundas:
- um mercado sensível a ruídos políticos,
- um Congresso vulnerável a pressões,
- uma direita fragmentada,
- um STF no centro do jogo,
- e uma eleição que ameaça ser dominada por pautas explosivas, não por projetos de país.
A pré-candidatura relâmpago de Flávio Bolsonaro talvez não tenha durado dois dias.
Mas o estrago — e os sinais — vão durar bem mais.
E 2026 já começou a ser decidido nos bastidores, não nas urnas.







