O que parecia o maior negócio financeiro do ano virou, em poucas horas, um dos escândalos bancários mais dramáticos da história recente do Brasil.
A Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, revelou um esquema sofisticado de fraudes que pode ter alcançado R$ 12 bilhões, levou o controlador do banco à prisão e obrigou o Banco Central a decretar a liquidação extrajudicial da instituição.
Em apenas 12 horas, o Banco Master deixou de ser o protagonista de uma negociação bilionária para se tornar o centro de um escândalo nacional. Na manhã de 18 de novembro de 2025, o país assistiu perplexo ao desmonte de um império financeiro que vinha crescendo de forma acelerada nos últimos anos. A prisão do controlador Daniel Vorcaro e as revelações feitas pela Polícia Federal transformaram o episódio em um marco da história financeira nacional.
O DIA EM QUE TUDO DESABOU
Até o início da manhã, a narrativa era outra: o Master estava em vias de ser adquirido pelo Grupo Fictor, em uma operação que injetaria R$ 3 bilhões na instituição. Era tratada como uma vitória — um salto estratégico que consolidaria o banco no mercado.
Mas, ainda antes do almoço, o cenário virou do avesso. A PF deflagrou a Operação Compliance Zero e revelou que o banco vinha operando um esquema de criação de créditos fictícios, sobrevalorização de ativos e uma engenharia interna para esconder prejuízos e maquiar a contabilidade. O Banco Central, imediatamente informado dos indícios, decretou a liquidação extrajudicial, um dos movimentos mais duros que a entidade pode adotar.
O ESQUEMA QUE VIROU CASO DE POLÍCIA
Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, o valor da fraude pode atingir R$ 12 bilhões. O número impressionou até veteranos do mercado financeiro, que consideram raro um desvio tão alto em uma instituição de porte intermediário.
As suspeitas levantadas pela investigação incluem:
- emissões de títulos lastreados por créditos fictícios;
- substituição recorrente de ativos durante fiscalizações do BC para mascarar perdas;
- movimentação de recursos entre empresas do grupo para gerar aparência de liquidez;
- uso de ativos sem avaliação técnica adequada como garantia;
- práticas que configuram gestão fraudulenta, falsidade documental, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na operação, a PF apreendeu R$ 1,6 milhão em espécie, carros de luxo, joias, relógios e obras de arte — elementos que reforçam a suspeita de enriquecimento ilícito por parte de alguns envolvidos.
QUEM É DANIEL VORCARO

A queda do Master coincide diretamente com a queda de seu controlador.
Daniel Vorcaro, 42 anos, tornou-se um nome conhecido por investir em setores como varejo, saúde e tecnologia, sempre com postura agressiva e foco em expansão acelerada.
Com o Master, a estratégia era clara: capturar investidores oferecendo CDBs de rendimento muito acima da média. Algumas taxas, segundo investigadores, chegavam a 140% do CDI, atraindo milhares de clientes em busca de retorno rápido.
Vorcaro foi preso no Aeroporto de Guarulhos, quando se preparava para embarcar para o exterior. Seus bens foram bloqueados e ele agora responde por um conjunto de crimes financeiros de grande magnitude.
EFEITO DOMINÓ NO SISTEMA FINANCEIRO
A queda do Master provoca ondas que ainda estão se espalhando:
1. Pressão sobre o FGC
O Fundo Garantidor de Créditos, embora robusto, terá que absorver um impacto bilionário.
É provável que haja pressão sobre suas reservas e possível revisão nos critérios de cobertura.
2. Crise de confiança
Investidores que buscavam altas taxas agora enfrentam o choque entre “rentabilidade extrema” e “risco extremo”.
Plataformas e bancos médios sentem o efeito imediato na captação.
3. Debate regulatório
O caso reacende discussões sobre fiscalização, transparência e limites para captação agressiva por bancos de menor porte.
4. Risco de contágio
Caso outras instituições tenham adotado estratégias parecidas — ainda que de forma mais branda — o mercado pode experimentar instabilidade nas próximas semanas.
O QUE ACONTECE AGORA
O Banco Central assumiu o comando e dará andamento à liquidação.
A PF, por sua vez, continua o rastreamento dos fluxos financeiros, buscando identificar cúmplices e mapear toda a cadeia de fraudes.
Para os clientes, o FGC deverá iniciar o processo de ressarcimento de forma gradual, respeitando o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição.
ANÁLISE: UM ALERTA QUE NÃO PODE SER IGNORADO
O episódio expõe uma vulnerabilidade estrutural do sistema financeiro: bancos menores têm liberdade para praticar juros muito acima do mercado, o que cria incentivos para crescer rápido demais, sem lastro sólido.
O caso Master não é apenas a história de uma fraude bilionária.
É um espelho incômodo sobre:
- a cultura de “ganho fácil”;
- a fragilidade da supervisão;
- e o apetite de risco crescente entre investidores comuns.
Pode ser o ponto de virada para um sistema mais seguro e transparente — se as autoridades aprendem com o choque.
Se não, será apenas o prelúdio de crises maiores.








