O planeta está dando sinais de cansaço. O ar está saturado, os oceanos estão feridos e até o corpo humano começa a revelar o que parecia impensável: resíduos de plástico alojados no cérebro. A ciência já não deixa dúvidas — o material que um dia foi sinônimo de praticidade e modernidade está nos intoxicando por dentro e por fora.
Durante décadas, o plástico foi tratado como o grande salvador da conveniência. Embalagens leves, coloridas, baratas e “descartáveis”. Mas o que a indústria chamava de “descartar”, na verdade, significava espalhar. Espalhar microplásticos invisíveis em tudo o que tocamos — no ar que respiramos, na comida que comemos e na água que bebemos. Hoje, estudos confirmam: essas partículas estão atravessando a barreira hematoencefálica e se instalando no cérebro humano. Um alerta que vai muito além da poluição visual.

Enquanto isso, no meio ambiente, a contaminação é gritante. Segundo levantamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a produção mundial de plásticos já é responsável por cerca de 1,7 gigatonelada de gases de efeito estufa por ano — e, se nada mudar, esse número pode quase quadruplicar até 2050. Isso significa que o plástico não é apenas um problema de lixo: é um problema climático.
No Brasil, o cenário espelha o drama global. Um estudo recente apontou que quase metade (48,5%) dos resíduos encontrados no mar brasileiro são plásticos. Tampinhas, embalagens de refrigerante, copos descartáveis e sacolas que, mesmo pequenas, têm um poder devastador sobre os ecossistemas. Tartarugas, aves e peixes confundem fragmentos de plástico com alimento e morrem lentamente — asfixiados, intoxicados ou famintos, com o estômago cheio de lixo humano.

Mas nem tudo é desespero. O país começa a se mover. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou a Estratégia Nacional do Oceano sem Plástico (ENOP), que pretende reduzir drasticamente o descarte até 2030. Além disso, o Brasil assumiu o compromisso de recuperar 50% de todas as embalagens plásticas produzidas até 2040. São passos importantes, mas ainda tímidos diante do tamanho do problema.
Porque, no fundo, a verdadeira mudança precisa nascer no comportamento das pessoas — de mim, de você, de todos nós.
Não adianta esperar apenas por tratados internacionais ou leis ambientais se continuarmos comprando, embalando e descartando no automático.
A cada garrafa que escolhemos, a cada pote de plástico que guardamos comida quente, estamos participando — consciente ou não — da construção de um futuro mais contaminado.

O plástico nunca foi, de fato, a melhor opção. Ele apenas foi a opção mais fácil.
Agora, precisamos aprender a dizer “não” à facilidade que destrói, e “sim” ao cuidado que preserva. Reaprender a usar vidro, metal, fibra natural. Reaprender a lavar e reutilizar, em vez de descartar.
Repensar é urgente. Reduzir é vital. Recusar é revolucionário.
Porque o planeta está sufocando — e nós estamos sufocando junto.
A descarga de contaminação não é mais algo distante ou invisível: está no prato, no sangue, no cérebro e no ar.
E enquanto o plástico continuar sendo visto como “conveniência”, a humanidade continuará se envenenando lentamente, uma tampinha de garrafa por vez.

Ainda há tempo de mudar — mas o relógio corre.
A próxima geração já não quer viver num mundo coberto por plástico.
E a nossa responsabilidade é garantir que não precise.http://jornalfactual.com.br







