O sistema educacional brasileiro vive uma das maiores transições das últimas décadas. Entre avanços tecnológicos, novas políticas públicas e velhos desafios estruturais, o país tenta equilibrar qualidade, inclusão e inovação no ensino básico e médio.
Nos últimos anos, programas como o Novo Ensino Médio, o incentivo financeiro Pé-de-Meia e a expansão do ensino técnico e profissionalizante têm buscado aproximar os jovens do mercado de trabalho e reduzir a evasão escolar. No entanto, dados recentes mostram que a educação brasileira ainda enfrenta barreiras significativas — especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Um retrato desigual
De acordo com o Censo Escolar 2024, houve um crescimento de 3% nas matrículas do ensino médio técnico em relação ao ano anterior. Ainda assim, um em cada cinco jovens de 15 a 17 anos está fora da escola, segundo levantamento do Todos Pela Educação (2025).
A falta de infraestrutura, o baixo acesso à internet e os salários defasados dos professores continuam sendo entraves. “A escola pública é, para muitos alunos, o único espaço de aprendizado formal e também de convivência social. Sem investimento adequado, as desigualdades se aprofundam”, afirma Carla Mendes, pesquisadora em políticas educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Tecnologia e capacitação docente
A pandemia acelerou o uso de tecnologias na sala de aula, mas o impacto da digitalização ainda é desigual. Enquanto escolas privadas adotam plataformas interativas e inteligência artificial para personalizar o ensino, muitas redes públicas ainda lutam por laboratórios de informática básicos e conexão estável à internet.
“Não basta distribuir tablets — é preciso formar professores para usar as ferramentas de forma pedagógica”, explica Ricardo Lima, coordenador de formação docente da Secretaria de Educação do Paraná.
Nos últimos dois anos, o Ministério da Educação tem investido em programas de capacitação digital e atualização curricular, mas a adesão ainda é irregular entre os estados.
Permanência e incentivo
Criado em 2024, o programa Pé-de-Meia oferece um auxílio financeiro mensal a estudantes do ensino médio de baixa renda que mantenham frequência escolar regular. Segundo o MEC, mais de 2,4 milhões de jovens já foram beneficiados em todo o país.
Para a estudante Ana Luísa Ferreira, de 17 anos, moradora de Palmas (TO), o benefício foi determinante para continuar estudando:
“Eu pensei em desistir no segundo ano pra trabalhar, mas o Pé-de-Meia ajudou muito. Agora quero fazer técnico em enfermagem e tentar uma vaga na faculdade.”
Boas práticas e inovações locais
Apesar das dificuldades, várias redes municipais têm inovado. Em Sobral (CE), escolas públicas mantêm índices de alfabetização acima da média nacional. Em Curitiba (PR), um programa de ensino híbrido mescla aulas presenciais com atividades online supervisionadas. Já em Belém (PA), o uso de rádio comunitária tem sido uma alternativa criativa para levar conteúdo a comunidades ribeirinhas.
Essas experiências mostram que inovação não depende apenas de tecnologia de ponta, mas de estratégias adaptadas à realidade local.
O futuro da educação brasileira
Especialistas concordam que o Brasil precisa de um plano de longo prazo que una investimento contínuo, valorização docente e adaptação curricular.
“O desafio é ensinar para um mundo que muda rápido. O aluno precisa aprender a aprender, e o professor precisa ser preparado para orientar esse processo”, resume Maria das Graças Oliveira, consultora da UNESCO no Brasil.
Enquanto o país tenta equilibrar tradição e modernidade, uma coisa é certa: o futuro da educação brasileira passa por um tripé essencial — formação de professores, inclusão digital e permanência dos estudantes na escola.http://jornalfactual.com.br







