
Quem diria: o novo brinquedo da geração não é boneca, não é bicicleta, não é nem o tão cobiçado iPhone. É um creme. Um sérum. Um potinho antienvelhecimento para uma pele que mal saiu da infância.
A cena que viralizou em New Jersey é quase surreal: 90 mil crianças e adolescentes se amontoaram para o lançamento da marca de skincare de Salish Matter, uma influenciadora de apenas 15 anos. O vídeo é, no mínimo, perturbador. Uma multidão histérica — mas não por uma banda, um ídolo teen ou um jogo de videogame. O delírio coletivo era por… hidratante facial.
No TikTok, o fenômeno já tem nome: Sephora Kids. A hashtag #sephorakids acumula milhões de visualizações. Meninas de 9, 10 e 11 anos gravam suas rotinas noturnas com mais passos que muito adulto cansado do home office. Sérum de vitamina C, creme para rugas, máscara facial. Rugas? Aos dez anos?
A infância encurtada
Há quem veja “fofura”. Mas o que salta aos olhos é a adultização precoce: a infância sendo substituída por um consumo voraz de produtos de beleza. Brincar de casinha? Já era. Agora o “faz de conta” é ter uma rotina digna de dermatologista.

E aí entra a engrenagem cruel: enquanto crianças acreditam estar “se cuidando”, na verdade estão sendo moldadas como consumidoras fiéis de um mercado que vale bilhões. A beleza virou brinquedo — e a lógica de mercado agradece.
E o mais irônico de tudo…
Dermatologistas alertam: usar creme antienvelhecimento em pele jovem não só é inútil, como pode ser prejudicial. Mas quem liga? O algoritmo pede, a indústria entrega e os pais, muitas vezes, aplaudem.
A pergunta incômoda é: será que estamos trocando a imaginação infantil por prateleiras da Sephora? Ou, pior, será que estamos ensinando nossas meninas de 10 anos a se preocuparem mais com linhas de expressão inexistentes do que com a própria infância que lhes escapa pelas mãos?http://jornalfactual.com.br