A geração exausta — jovens conectados e emocionalmente esgotados

Relatórios da OMS e da Fiocruz apontam aumento expressivo de ansiedade e depressão entre brasileiros de 18 a 35 anos. Especialistas alertam: estamos diante de uma epidemia silenciosa de exaustão emocional.


“Eu acordo cansada e vou dormir exausta, mesmo sem ter feito nada de tão diferente.” O desabafo é de Camila Alves, 27 anos, analista de marketing que, como muitos jovens brasileiros, vive um ciclo de cobrança, produtividade e esgotamento. Ela representa o retrato de uma geração hiperconectada, mas emocionalmente drenada.

Segundo relatórios recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Fiocruz, o Brasil lidera o ranking latino-americano de ansiedade e depressão entre jovens. Entre 2020 e 2025, o número de diagnósticos de burnout cresceu 28% entre pessoas de 18 a 35 anos. O uso excessivo de redes sociais, o medo de falhar e a busca constante por validação são apontados como fatores decisivos.

“O jovem atual está vivendo em um estado de alerta constante. Ele quer ser produtivo, criativo, saudável, feliz e bem-sucedido — tudo ao mesmo tempo. Isso é insustentável”, explica a psicóloga Letícia Guimarães, pesquisadora da área de saúde mental da Fiocruz.

Além da pressão virtual, o contexto econômico e o trabalho remoto potencializaram o problema. “Há uma cobrança velada para estar sempre disponível. Muitos jovens confundem descanso com preguiça, e isso alimenta o ciclo da exaustão”, analisa Rafael Mendes, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A consequência é uma geração cada vez mais ansiosa, com dificuldades de concentração e relações sociais frágeis. A OMS classifica o fenômeno como “pandemia invisível”, já que os sintomas não são visíveis como uma doença física, mas afetam produtividade, aprendizado e bem-estar coletivo.

Iniciativas de enfrentamento começam a surgir. Startups de psicologia online, como a Vittude e o Zenklub, relatam aumento de 40% na busca por terapia digital entre jovens adultos. Algumas empresas também criaram programas de saúde emocional, como pausas remuneradas, acompanhamento psicológico e espaços de descompressão.

Ainda assim, os especialistas reforçam que é preciso ir além. “Falar sobre saúde mental não pode ser moda passageira. Precisamos transformar o debate em política pública, começando pela educação emocional nas escolas”, defende Letícia.

Enquanto isso, Camila tenta equilibrar o caos. “Hoje aprendi a não me cobrar tanto. Desativei notificações, comecei terapia e redescobri o prazer de ficar offline”, conta. “É difícil, mas acho que o primeiro passo é admitir que a gente não precisa dar conta de tudo.”


Destaques

  • O Brasil está entre os países com maior índice de ansiedade do mundo, segundo a OMS.
  • Entre 2020 e 2025, casos de burnout cresceram 28% entre jovens adultos.
  • Startups de psicologia online registraram aumento de 40% nas buscas por terapia.
  • Especialistas pedem políticas públicas permanentes para a saúde emocional da juventude.

jhttp://jornalfactual.com.br

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