
Durante a Sessão de Abertura da Reunião sobre o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o Brasil vai investir US$ 1 bilhão na iniciativa. O fundo, que será lançado oficialmente na COP 30, em Belém (PA), pretende inaugurar um modelo inovador de financiamento para a conservação das florestas tropicais.
O anúncio gera entusiasmo, mas também levanta uma questão central: como esse dinheiro será aplicado e quem terá a chave do cofre?
O que o fundo promete
A proposta do TFFF é mobilizar países, bancos de desenvolvimento, ONGs e até empresas privadas para financiar ações de:
- Proteção da biodiversidade;
- Combate ao desmatamento ilegal;
- Fortalecimento de políticas ambientais;
- Alternativas econômicas sustentáveis para comunidades locais.
No papel, soa como um plano robusto. Mas a execução é o verdadeiro desafio.
Quem vai controlar os recursos?
Fundos internacionais de conservação quase sempre reúnem atores diversos:
- ONGs ambientais globais, como WWF ou The Nature Conservancy;
- Bancos multilaterais, como BID e Banco Mundial;
- Governos nacionais e locais;
- Fundações privadas interessadas em reforçar sua imagem verde.
Esse mosaico de gestores pode ser positivo, mas também traz riscos. Especialistas alertam que, sem clareza, o fundo pode servir mais a interesses institucionais ou corporativos do que à floresta e às comunidades que nela vivem.
Transparência é a chave
A experiência mostra que recursos bilionários, sem mecanismos de controle, podem se perder em burocracia ou projetos de baixo impacto. Para que o TFFF não seja apenas mais um fundo no papel, serão necessários:
- Auditorias independentes;
- Participação ativa de representantes da Amazônia, povos indígenas e comunidades tradicionais;
- Divulgação pública e acessível da aplicação dos recursos.
Como resume a pesquisadora Ana Bezerra, especialista em políticas ambientais:
“Não basta anunciar cifras milionárias. Precisamos garantir que o dinheiro chegue à ponta, às comunidades e florestas que sustentam a vida no planeta.”
O gesto político antes da COP 30
O aporte de US$ 1 bilhão também tem forte peso simbólico. Às vésperas da COP 30, o Brasil tenta se consolidar como líder climático global, mostrando capacidade de propor soluções financeiras próprias para a conservação.
Mas o verdadeiro impacto será medido em longo prazo. Quantos hectares de floresta serão preservados? Quantas comunidades serão fortalecidas? Quantas cadeias produtivas sustentáveis nascerão a partir desses recursos?
Um bilhão de dólares é muito, mas, frente ao valor da biodiversidade brasileira, talvez seja só uma fagulha. O fundamental será a clareza de quem controla o fundo e como cada centavo será transformado em floresta viva.http://jornalfactual.com.br