Uma reflexão sobre o silêncio internacional diante dos massacres de cristãos na Nigéria — e a seletividade das tragédias que o mundo escolhe enxergar.
Enquanto manchetes do mundo ecoam indignação pela morte de criminosos em operações policiais no Brasil, vilarejos inteiros de cristãos estão sendo dizimados na Nigéria — sem uma única nota oficial da ONU.
Nos últimos meses, os funerais coletivos se multiplicaram. Homens, mulheres e crianças assassinados por grupos armados apenas por professarem a fé em Jesus Cristo. Caixões improvisados, orações abafadas, silêncio internacional.
“Quando morre alguém na Europa, há minutos de silêncio.
Quando morremos aqui, há silêncio total.”
— Pastor Michael Okechukwu, Kaduna, Nigéria.
A dor que o mundo escolhe não ver

Segundo a organização Intersociety, mais de 7.000 cristãos foram mortos só em 2025 na Nigéria.
Os ataques partem de milícias fulani e grupos jihadistas como Boko Haram e ISWAP, que atacam igrejas, vilas e escolas.
Mas essa guerra religiosa raramente vira manchete.
Enquanto a ONU reage em questão de horas a tragédias urbanas filmadas por helicópteros, os massacres rurais da Nigéria seguem invisíveis — sem nota, sem repúdio, sem debate.
A discrepância levanta uma questão moral incômoda:
existem vidas que valem mais do que outras para a comunidade internacional?
Dois pesos, duas medidas
Recentemente, a ONU se disse “horrorizada” com uma operação policial no Rio de Janeiro, onde mais de 120 suspeitos morreram em confronto.
Nada contra a indignação — cada vida importa.
Mas onde estava esse horror quando dezenas de cristãos foram queimados vivos dentro de uma igreja em Plateau State?
Ou quando centenas de famílias foram massacradas no interior de Kaduna?

A ONU, guardiã dos direitos humanos, parece sofrer de miopia moral seletiva:
enxerga tragédias convenientes, mas desvia o olhar quando o massacre acontece longe dos holofotes ou não se encaixa em sua narrativa política.
“Se o silêncio é escolha, então o silêncio também é cumplicidade.”
A geopolítica da comoção
Especialistas apontam que há três motivos para essa disparidade de atenção:
- Mídia global concentrada — o drama africano é difícil de filmar, transmitir e monetizar. Tragédias que não “vendem imagem” acabam ignoradas.
- Interesse geopolítico — quando não há petróleo, base militar ou impacto financeiro, a diplomacia global é lenta.
- Complexidade local — na Nigéria, a violência mistura religião, etnia, pastoreio e pobreza, tornando a culpa “difusa” e a resposta internacional tímida.
Mas nenhuma dessas razões justifica a indiferença diante de um massacre de inocentes.
Fé que resiste no silêncio

Apesar da violência, as comunidades cristãs da Nigéria continuam reunindo-se, rezando e reconstruindo templos destruídos.
Para muitos, a fé virou o único escudo possível contra o abandono do mundo.
Mesmo sem ajuda internacional, padres e pastores seguem consolando famílias e enterrando vítimas — às vezes com as próprias mãos.
Essa resistência silenciosa é um testemunho de coragem que o planeta parece ter esquecido de aplaudir.
A ONU e o peso desigual da dor
Quando uma instituição que deveria representar a humanidade escolhe quais tragédias merecem lágrimas oficiais, ela perde parte da autoridade moral que a sustenta.
O silêncio da ONU diante da perseguição religiosa na Nigéria não é apenas omissão diplomática — é um erro ético profundo.
A seletividade na defesa da vida mina a própria ideia de “direitos humanos universais”.
Porque, se o direito à vida é universal, então o sofrimento dos cristãos nigerianos deveria gritar tão alto quanto qualquer outra tragédia.
Reflexão final
O mundo moderno fala de empatia, mas pratica indiferença seletiva.
E cada vez que uma instituição global se cala diante de um genocídio silencioso, ela reafirma um padrão cruel: existem dores que valem manchete — e dores que valem silêncio.
Talvez o primeiro passo para mudar o mundo
seja ter coragem de enxergar o que não aparece na TV.






