
A Índia encerrou o período de exportação de açúcar permitido pelo governo com desempenho inferior ao esperado. Das 1 milhão de toneladas autorizadas até setembro de 2025, apenas cerca de 775 mil toneladas deixaram os portos indianos, segundo dados apurados pela Reuters com fontes do setor.
O déficit de aproximadamente 225 mil toneladas pode parecer modesto frente à produção anual indiana, estimada em cerca de 35 milhões de toneladas, mas o resultado indica uma queda de competitividade em um mercado global dominado pelo Brasil, principal exportador mundial da commodity.
Brasil amplia liderança

Enquanto a Índia enfrenta custos mais altos e margens menores, o Brasil tem reforçado sua posição de liderança no comércio internacional de açúcar, aproveitando uma safra favorável e infraestrutura logística mais eficiente. O aumento das exportações brasileiras também contribuiu para pressionar os preços globais, reduzindo o espaço para o produto indiano em alguns mercados.
De acordo com analistas do setor, o equilíbrio entre o preço interno do açúcar na Índia e o valor pago no exterior tem se tornado cada vez mais desafiador, levando muitas usinas a priorizar o abastecimento doméstico.
Setor estratégico para a economia indiana

O açúcar é uma commodity de peso econômico e social na Índia. O setor emprega milhões de pessoas direta e indiretamente e sustenta grande parte da renda rural em estados como Uttar Pradesh, Maharashtra e Karnataka — regiões politicamente influentes.
Nos últimos meses, houve relatos de atrasos nos pagamentos aos produtores de cana, situação que já levou o governo a emitir alertas e prometer ações contra usinas inadimplentes, segundo o Times of India.
Esses atrasos afetam o fluxo de renda no campo e podem gerar tensões sociais, especialmente em anos de superprodução, quando os preços domésticos ficam sob pressão.
Perspectivas e desafios
Com estimativas de produção superiores a 35 milhões de toneladas para o próximo ciclo, a Índia enfrenta o desafio de equilibrar estoques internos, preços domésticos e participação no comércio internacional.
Especialistas apontam que a diversificação para o etanol, política já adotada em parte das usinas, pode ajudar a absorver o excedente de cana e reduzir a dependência do mercado externo de açúcar.
Enquanto isso, o desempenho do Brasil — impulsionado pela alta produtividade e crescimento do setor de biocombustíveis — reforça a disparidade competitiva entre os dois gigantes do açúcar.
Conclusão
O resultado abaixo da meta de exportação não representa uma crise imediata, mas funciona como sinal de alerta para a indústria açucareira indiana, que precisa lidar com custos internos elevados, gargalos logísticos e crescente concorrência global.
O comportamento do setor nos próximos meses será decisivo para definir se a Índia conseguirá recuperar espaço no mercado internacional ou se consolidará uma tendência de retração diante do avanço brasileiro.
🗞️ Fontes consultadas:
- Reuters (19/09/2025) – Indian sugar mills miss export quota, ship around 775,000 tons
- Business Standard (20/01/2025) – Govt allows export of 1 mn tonnes sugar in ongoing 2024–25 season
- Times of India (set. 2025) – Sugar mills delaying payment to farmers will face stern action: government
- Investing.com (set. 2025) – India, Brazil boost global sugar output amid price trends