
Ao longo de mais de três décadas de conferências internacionais sobre o clima, o mundo investiu bilhões em debates, compromissos e relatórios. No entanto, os resultados concretos ainda parecem distantes do ideal. Entre promessas ambiciosas e realidades frustrantes, cresce a pergunta: estamos realmente combatendo a injustiça climática ou apenas adiando o inevitável?
Um histórico de intenções globais
Desde a primeira Conferência do Clima da ONU (COP), realizada em 1995, as nações se reúnem anualmente para discutir medidas contra o aquecimento global. Foram assinados documentos históricos como o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015) — este último, considerado um marco por estabelecer a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
No papel, o comprometimento global parecia sólido. Mas, passadas quase três décadas de cúpulas, é impossível ignorar que o ritmo das ações não acompanha o da emergência climática.
Milhões gastos, resultados modestos

Cada conferência movimenta milhões de dólares — desde a logística até a presença de delegações, ativistas e corporações. As discussões produzem relatórios extensos e declarações inspiradoras, mas a execução das metas é lenta e desigual.
Especialistas apontam que, enquanto alguns países reduziram emissões e expandiram o uso de energia limpa, as emissões globais continuam em patamares recordes. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), 2024 foi o ano com o maior volume de CO₂ emitido da história, mesmo após décadas de tratados.
Avanços reais: pequenas vitórias em meio ao caos
Nem tudo é fracasso. O custo das tecnologias renováveis despencou — painéis solares ficaram cerca de 80% mais baratos desde 2010, e a energia eólica se tornou competitiva com o carvão.
Há também políticas nacionais e regionais eficazes: países escandinavos e o Chile, por exemplo, já avançam rumo à neutralidade de carbono antes de 2050.
Além disso, as conferências ajudam a manter a pauta ambiental viva na opinião pública e a pressionar grandes corporações e governos.
Injustiça climática: o fardo desigual
Apesar dos esforços, o impacto do desequilíbrio climático não é sentido da mesma forma por todos. Países pobres, que pouco contribuíram para as emissões históricas, sofrem com secas severas, enchentes, perda de colheitas e deslocamentos populacionais.
Enquanto isso, nações ricas ainda discutem o cumprimento de promessas financeiras feitas há mais de dez anos para ajudar na adaptação dos países vulneráveis. O chamado “Fundo Climático Verde”, anunciado com entusiasmo, segue abaixo das metas de arrecadação e desembolso.
Conferências que não conferem?
Críticos afirmam que muitas COPs se tornaram palcos para disputas diplomáticas e discursos vazios. As resoluções são, em sua maioria, voluntárias e sem mecanismos de sanção.
O resultado? Um ciclo de promessas renovadas e resultados insuficientes — enquanto os recordes de temperatura e desastres naturais se acumulam.
Mesmo assim, os encontros continuam sendo espaços fundamentais de articulação global. Sem eles, talvez sequer existissem as metas conjuntas que ainda norteiam as políticas climáticas.
O caminho adiante: da retórica à ação
O mundo precisa repensar a forma como conduz essas negociações.
Mais do que novas conferências, é urgente criar mecanismos de verificação, metas obrigatórias e participação ativa das comunidades afetadas.
A chamada justiça climática exige que quem mais poluiu historicamente assuma a maior parte do ônus — financeiro, tecnológico e político — da mitigação.
Se as próximas conferências quiserem deixar de ser meros rituais diplomáticos, precisarão ser guiadas por transparência, responsabilidade e coragem política.
Conclusão
As conferências climáticas são, paradoxalmente, sintomas e remédios da crise. Mostram o quanto ainda precisamos conversar — e agir.
O planeta não espera relatórios; ele reage. E enquanto a humanidade se reúne para debater o clima, o clima responde, cada vez mais, com urgência e imprevisibilidade.http://jornalfactual.com.br