Os chilenos retornam às urnas hoje para escolher o sucessor do presidente Gabriel Boric em uma das eleições mais polarizadas desde o fim da ditadura. O cenário é marcado por disputas ideológicas intensas, preocupações com segurança pública, pressões econômicas e um eleitorado dividido entre propostas de esquerda, direita tradicional e extrema-direita.
A corrida presidencial reúne oito candidatos, mas dois nomes se destacam como os favoritos para avançar ao segundo turno: Jeannette Jara, candidata da esquerda e ex-ministra do Trabalho, e José Antonio Kast, líder da ultradireita e figura central do discurso de “lei e ordem”.
Favoritos: Jara e Kast dominam a disputa
Jeannette Jara
- Ex-ministra do Trabalho e representante do bloco governista.
- Foi escolhida nas primárias da esquerda com mais de 60% dos votos.
- Defende reforço das políticas sociais, inclusão, e um Estado mais forte.
José Antonio Kast
- Líder da ultradireita, com discurso duro sobre segurança e imigração.
- Propõe militarização de fronteiras, redução do Estado e maior combate ao crime.
- Tem sido o favorito em vários cenários de segundo turno.
Além deles, figuram nomes como Evelyn Matthei (direita tradicional) e Johannes Kaiser (libertário), mas ambos aparecem distantes das primeiras posições — embora sua presença fragmente a base conservadora.
Projeções atualizadas da última semana: o que mostram as pesquisas
As principais consultoras chilenas divulgaram nos últimos dias levantamentos que ajudam a entender o quadro atual:
🔹 CEP (Centro de Estudos Públicos)
- Jara: 23%
- Kast: 23%
- Expectativa de vitória: 37% acreditam que Kast será o próximo presidente
- Segundo turno (Kast x Jara): Kast 41% x 33% Jara
🔹 Cadem (Plaza Pública)
- Jara: entre 27% e 28%
- Kast: 23%
- Segundo turno: Kast venceria por 47% x 36%
🔹 Criteria
- Kast: 30%
- Jara: 27%
- Simulações também indicam vantagem de Kast no segundo turno.
🔹 Tendência consolidada
- Jara costuma liderar a primeira volta, mas…
- Kast aparece mais forte no segundo turno em praticamente todos os institutos.
- Segurança, imigração e “ordem pública” são temas que fortalecem Kast.
- A “expectativa de vitória”, mesmo entre eleitores que não votam nele no primeiro turno, favorece o candidato da ultradireita.
Por que Kast tem vantagem no segundo turno?
Mesmo não liderando todas as pesquisas do primeiro turno, Kast:
- Consolida bem os votos da direita e extrema-direita.
- Herdaria votos de eleitores de Matthei, Parisi e Kaiser.
- Explora a pauta da segurança, hoje o principal medo da população.
- Tem discurso alinhado com eleitores preocupados com imigração venezuelana e violência.
A esquerda, por outro lado, enfrenta dificuldades em unir moderados, jovens e progressistas — especialmente após o desgaste do governo Boric.
Riscos para Jara
- Em praticamente todas as simulações de balotagem, ela perde para Kast.
- Precisa conquistar eleitores de centro, o que não está ocorrendo com força suficiente.
- A fragmentação de votos entre outros candidatos compromete sua margem.
- O tema segurança, central na campanha, não tem funcionado a seu favor.
Cenários para o resultado final
Se a eleição fosse hoje:
- O mais provável é:
- Jara vence ou empata no 1º turno,
- Mas Kast vence no 2º turno com margem de 8 a 12 pontos.
Porém…
Se houver alta participação de jovens e eleitores progressistas — especialmente em Santiago — Jara pode reduzir a desvantagem na balotagem.
Por que essa eleição importa além do Chile
A disputa reflete uma tendência continental: o choque entre esquerda institucional e direita radical com discurso securitário.
O resultado chileno pode influenciar:
- As eleições do Peru e da Argentina em 2026,
- O debate sobre imigração venezuelana,
- A política de segurança regional,
- O alinhamento com EUA ou blocos progressistas latino-americanos.
Conclusão
O Chile vive hoje uma eleição decisiva, marcada pela incerteza e pela polarização.
Embora Jeannette Jara apareça bem posicionada para o primeiro turno, José Antonio Kast é hoje o favorito para vencer se houver segundo turno — cenário apontado pela maioria das pesquisas recentes.
A escolha do novo presidente pode redefinir o caminho do país nos próximos anos, entre modelos opostos de sociedade: um Estado social fortalecido ou uma guinada conservadora e securitária.








